Andante,Andante...
"Nenhum momento de felicidade terá sentido se não for compartilhado"
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        LICORZINHO FDP !!!


Minha mãe antes de sair para um compromisso do qual não me lembro,recomendou-me:
-Passe o escovão (alguém lembra desta tortura chinesa?) no assoalho - ela havia encerado com "cêra Canário - um luxo na época - e depois pode sair pra rua,mas não esqueça de fechar a porta e deixar a chave no lugar combinado.
Liguei o rádio no máximo de volume, e de mãos ao objeto de tortura,passei a lustrar o assoalho.
O resultado estava ficando ótimo!
Já meio cansado, no auge de meus 8 anos, fui me abatendo de um ligeiro surto de preguiça.
Tomei nas mãos um retalho de flanela e fui "tirando o pózinho das coisas" ( odiava quando mandavam-me fazer isso )
Limpa daqui, limpa dali e de repente...
Uma garrafa meio ovalada, fechada com rolha d e cortiça. No rótulo uma provocante cachada de pêssegos amarelos.
Lindos ! viçosos e orvalhados.
Abri a garrafa e o cheiro mais delicioso do planeta foi adentrando pelas minhas narinas.
Experimentei !
Uma delícia!
Doce, levemente alcoolico. Ingeri uma lapada, mais uma, outra mais e fui me excedendo.
Lá se foi quase a garrafa tôda.
De súbito o mundo começou a rodopiar. O escovão me sorria, o rádio parecia distorcer o som e vir ao meu encontro. O armário queria cair sobre mim,e eu...
Poft ! Fui ao chão.
Tudo de que me lembro na sequência, é da algazarra de vozes ao meu redor.
Havia choro, lamúrias, desesperos...
A vizinhança estava quase tôda ali em solidariedade.
Sacudiam-me! Esfregavam cachaça canforada na minha pança, nas pernas...
-Tá sem purso ! Comadre Irda. Coitadinho! Dizia uma comadre de minha mãe.
-É ataque de bichas ! Façam chá de hortelã ! Proferia outra.
-Acendam vela ao anjo da guarda! Dizia mais alguém.
Juro que cheguei a ouvir um prognóstico curto, grosso e objetivo, dito em voa baixa:
-Ih ! O anjinho foi pro sêpo.
Eu ali... Semi petrificado.
De repente uma das tagarelas,a vizinha da esquina, encontra a garrafa quase entornada.
-Meu Deus !!! Foi porre !!!
-FDP !!! Quase me mata do coração, profere minha mãe.
Tragam café preto bem forte !
(E enfiem goela abaixo) - salienta minha avó paterna que era chegada a um sargentismo.
Feito boneco inflável fui revirado, jogado pelos lados, agitado.
(Tudo com mãos que estancavam minha boca para que ingerisse aquela delícia de café: amargo e quente )
Não demorou para que a coisa fizesse efeito e eu pusesse fora o líquido deliciosamente aromatizado aos pêssegos de  minha infância.
Fui voltando aos poucos, a cabeça doía, ainda rodopiava ligeiramente ,mas estava lúcido para receber a saraivada de fdp que me fora atribúida.
Quando os ânimos serenaram, Otália, minha prima e nossa vizinha, (Pensem numa sargentona !) apanhando a garrafa me coloca diante dos olhos e delicadamente abre seu discurso:
-Piá d e bosta ! Quase mata a madrinha do coração. Projeto de cachaçeiro! A vontade que eu tenho é de enfiar esta garrafa no teu foçinho ! FDP, indecente, onde já se viu uma coisa dessa ?
Depois, refeitas, foram tôdas para a cozinha e armaram o maior guajú regado a chimarrão e café.
Na sala, ainda meio zonzo, eu olhava a garrafinha ovalada e pensava com meus botões:
Licorzinho FDP !!!
IRATIENSE THUTO TEIXEIRA
Enviado por IRATIENSE THUTO TEIXEIRA em 29/03/2018
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