Andante,Andante...
"Nenhum momento de felicidade terá sentido se não for compartilhado"
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Textos
Pequenos contos de natal "Clóvis Fogueteiro"

     Nos  encontros  de  familia em  natais passados,Clóvis,meu  cunhado,era  sem  dúvida a presença  mais  esperada.É  claro que  jamais  deixamos isso  transparecer para não  magoar aos  outros que  costumavam reunir-se  nestas  ocasiões.
    Goiano,natural  de  Pirinópolis,Clóvis  era  engenheiro  civil radicado  em  Curitiba dêsde  os  seus  tempos  de  faculdade quando já começou  pagando  um  mico ao  participar  de  uma  "roda  de  chimarrão" promovida  pelos  sulistas na  república  onde  morava.Chegada  a  sua  vez,tragou  fortemente  a  bomba e saiu  em  disparada rumo  ao  banheiro,de  onde  voltou com  uma  cara de  espanto a  dizer:"Além  de  muito  quente,no  meu  não  tinha açúcar".
    Nem  é ´preciso  dizer que  esta  frase  lhe  rendeu  gozações de  seus  amigos até  o  final  de  seus  dias.
   Clóvis  era  um  sujeito animado,um  festeiro  inveterado.Refugiava-se  quase  todos  os  finais  de  semana  em  sua  casa  na  paradisíaca "Ilha  do  Mel",onde todos  lhe  admiravam.Os  nativos  da  ilha ao  lhe  ver  chegando iam  logo  dizendo:"Êba!...Chegou  o dotor Cróves".Mas  dividia-se  entre  o pessoal  de  "Iráti",como  costumava  dizer  brincando.Tôdas  as  datas  festivas  eram  passadas aqui  na  terrinha,especialmente  no  Natal quando  não  seria  perdoado  se  ousasse  faltar.Em  aqui  chegando,mal  acabava  de cumprimentar os  sogros  e  corria  para  a  casa  de  seu Jango,meu  pai,a  quem  êle  queria  muito  bem.
   Jango,sabendo  da  chegada  do  amigo,preparava  as  cervejas geladinhas  e  uma  grelha  de  assados.Não  demorava  e  ouvíamos um  foguete...Mais um...Outro  mais,e  o  carro  de  Clóvis  parava  em  frente  ao  portão.Mais uma  rajada  de  fogos  e  um  forte  abraço  de amigos.Clóvis  costumava  dizer:"Deixei  a  polacada  cozinhando  "pirogues"* e  assando  "queobaça"* (referindo-se  à  casa  polonesa  dos  sogros)e  vim  abraçar o  meu caboclo  preferido:"Jango!",velho  de  guerra...Meu  pai que  era  todo  emotivo não  continha  as  lágrimas que  antecipavam  o clima  festivo  que  se  desenrolava.
    À  noite,reuniámos aos  polacos(assim  carinhosamente  denominávamos  a  familia  de  nossas  espôsas)e  a  festança  corria  à  sôlta.
    O  goiano entgregava  os  pontos  logo  cêdo e  caía  num  ronco  profundo  no  sofá  da sala.A  grande  algazarra  da  criançada  o  agito  de  tanta  gente  reunida e nem  sequer  a cantoria  polonesa na voz  grave  do  "Dziadzio"*,o  sogro,era  capaz  de  faze-lo  acordar.
    Foi  numa  manhã  de  julho de  alguns  anos  atrás,numa  movimentada  rua  de Curitiba  que  um  infarto nos separou  do  Dr.Clóvis...o dotor  "Cróves" da  Ilha  do  Mel.
    A  sua  lembrança retorna  aos  familiares,emoldurada  na  alegria,no  barulho,na  festa e  no  seu  sorriso  largo  que  sempre foram  sua marca  registrada.
    Revive  em  alguns  estampidos  que  eventualmente ocorrem  nesta data e  que  nos  remetem ao  nosso  querido  e  inesquecível:
   "Clóvis  Fogueteiro".



PS.Alguns termos  tipicamente  sulinos e  da  colonia  polonesa:
Pirogue - pastelzinho  cozido,recheado  de batata e  requeijão,envolvido  em  molho  de  tomate ou  nata.
Queobaça - Linguiça  defumada
Dziadzio - designação polonesa  de  avô.
IRATIENSE THUTO TEIXEIRA
Enviado por IRATIENSE THUTO TEIXEIRA em 22/12/2009
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