Andante,Andante...
"Nenhum momento de felicidade terá sentido se não for compartilhado"
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VAPOROSA!!!...
    VAPOROSA!...

Kátia,sem  dúvida,povoava  nossos  pensamentos.Éramos  uma  turma  de  estagiários  num  renomado  escritório de  contabilidade,todos  na  faixa  de  l6 à  17  anos de  idade.Ela,também estagiária,pertencia  à  mesma faixa  etária.

A  natureza,porém,havia  esbanjado  atributos naquela  beldade a  começar pelos delicados  pés que  serviam  de base  à  um  corpão  de l,70m,escultural,lindo  e  provocantemente delineado.   Para  completar  "o  pacote",vinha  como  arremate  à um  rosto  belíssimo,lábios  carnudos e  sensuais,nariz  empinado,cabelos  castanhos  claros e  um  par  de  olhos  de  um  verde  que  era uma  covardia!...

A  distinta,sabedora  de  seus  encantos e  dos  altos  índices  de  Ibope que  alcançava junto  aos  entusiasmados,fazia  valer ao  máximo  o que  lhe  fôra  concedido, com  alguns  gingados,algumas  expressões  corporais um  tanto  ousadas para  a  época (fins  dos  anos  60) e  uma  voz que  vez  e  outra  mais  parecia  um  sussurro.

Não  faltavam-lhe  à    mesa  de  trabalho  tôda  sorte  de  "agradinhos",bilhetinhos  gentis e  a  presença  constante  de  um  e  outro medioso,tentando  garantir-se.Era ela,na  verdade,o  nosso  grande  amor!...Platônico,evidentemente.

Tarde  de  setembro.Kátia sobe  as  escadarias com  a  sua  peculiar elegância,desta  vez  embalada para  presente num  vestido verde  claro,de   tecido  muito  fino que  o  vento leve  da estação  florida fazia  questão  de  armá-lo mostrando ,ainda  que  com  uma  certa  parcimônia,aquelas  côxas maravilhosas que  à  bem  da  verdade era  o  "nosso  sonho  de  consumo".(Com  todo  respeito,é  claro!)

Numa  das  salas,Tatá,profissional  gabaritado,dava  assistência  às  moderníssimas (?) "Remingthons","Ruff" e  "Facits"...Tôdas  de  última  geração."Um  luxo!"
Paralelamente ao  desempenho  de  suas  atividades,o  distinto era  intelectualizado e  quando  entrava  no  assunto  "psicologia"  com  a  chefe  do  escritório,Freud certamente  revirava-se  em  seu  caixão,tanto  eram  as  citações  envolvendo  sua  obra e  seus  conceitos.

Tatá,tinha  uma  carinha  malandra,um  jeito  de  olhar  que  oscilava  do  safado  ao  diabólico  em  questões  de  segundos.Seu  português  era  correto e as  palavras  que  usava nem  sempre  eram  compreendidas entre  nós que  naquela  época  estávamos  para "é  uma  brasa,mora!" na  mesma  proporção em  que  a geração  atual hoje  está  para  o  "tipo assim!"

O perfume delicioso antecipa-se  e  logo  em  seguida,ela,a  Kátia,adentra  à  sala  onde  se  encontra o profissional  das  máquinas.
Kátia,linda!...O  vestido  verde,o  vento...A  beldade do segundo  andar.
Tatá,olhinhos  oscilantes,palavras  bonitas proferidas  com  a  língua  preza.
Vendo  aquilo  tudo  diante  de  si,solta  o  verbo:
-Káaaatia!...Olha  só!..."Tôda  vaporosa!"Estagiários  estupefatos!...
"Vaporosa!!!???"...Olhares  estagiariamente idiotas  se  cruzam  como  a  dizer  em  pensamento:"Taaarado!"
Kátia,que  apesar  de  tôda  a  beleza  que  ostenta,tem  o  "QI" nem  um  pouco  superior ao  dos  demais de  sua  turma,responde  com  veemência:
-Mais  respeito,Tatá.Sou  uma  môça  de  família e como  tal,quero  ser  tratada.Entendeu???...Sai apressada  e  indignada com  o  que  julga tratar-se   um  desrespeito à  sua  pessoa.
Reunião  na  saleta  de  café.Fala-se  baixinho,comenta-se  a  ousadia do "intelectualizado",forma-se  uma  corrente  de  solidariedade  à pobre  da  injuriada."
Alguém  resolve  apanhar  o  Aurélio para  pesquisar  o  real  sentido  daquela palavra que  até  então soara  como  um  "assédio  sexual".
Desanuviam-se  os  olhares no  momento  em  que  descobre-se  o  significado do termo
que  nada  mais  era  além de um  elogio  à  suavidade  da  "bela  da  tarde".

Esta,que  ainda  desconhecia o  adjetivo  que  lhe  fôra  imPUTAdo,postada  na  sacada do  prédio percorria  com um  olhar  perdido  o  trem  que  cruzava  à  alguns  poucos  metros à  sua  frente.Um  apinhado  de  cabeças  pelas  pequenas  janelas do comboio correspondiam  àquêle  olhar  de perdição.O  vento  desenhava  ondas  em  seus  cabelos  e  atrevidamente  erguia-lhe  o  vestido.

Nós, integrantes da  comitiva  solidária,de posse  do  Aurélio que  iria    trranquiliza-la,diante  do  panorama que  se  desenhava à  nossa  frente,entreolhavá-mos embasbacados.Mentalmente formava-se  uma  corrente  a  entoar em  uníssono:"Káaaatia!...Vai  ser  vaporosa  assim,lá  em  casa!"

Bons e  vaporosos  tempos  foram  aquêles!
IRATIENSE THUTO TEIXEIRA
Enviado por IRATIENSE THUTO TEIXEIRA em 04/10/2010
Alterado em 04/10/2010
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