DOMINGO   FRUSTRADO

Queiramos  ou  não, são  os  domingos   dias especiais.Acorda-se  ao  som  dos  sinos  da  igreja ,toma-se  um  café  lá pelas  dez  horas ,apanha-se  um  jornal  e  sonha-se  com a  macarronada  “da  mama” ou  a  pirogada  da  sogra,ambas  servidas  exatamente  ao  meio  dia daquelas  domingueiras  que  ficaram  no  tempo.
Abre-se  a  porta  e  depara-se  com  o  cachorro  fazendo  alongamento  dominical.Sim,porque  até  cachorros  distinguem  as  diferenças  entre  os dias  de  batente  e  o  dia  de  descanço.(Se  é  que  eles  sentem  algum  cansaço).À  esta  altura  o  cheiro  dos  frangos  da  padaria  da  esquina  entranhado  pelas  narinas  já lhes  provocou  a  rebeldia ,e  uma  raçãozinha básica é  coisa  do  dia  à  dia.Não  hoje,quando  espera-se  um  prato  especial.
Como  a  “mama”  e  a  sogra,servem  agora  suas  massas  em  outra  dimensão,sendo  eu  metido  à  cozinheiro  boto  a  mão  na  massa (aqui  apenas  força  de  expressão)  e  vou  preparar  o  rango  da  galera que  continua  dormindo  o  sono dos  “quase  justos”  em  seus  respectivos  quartos.
Tudo  pronto,mesa  posta,e...A  galera  continua  dormindo.
Solitário,feito  um padre  velho entre  as  paredes  da  casa  paroquial,faço  a  minha  refeição.E   empanturro-me  “feito  um  padre” (novo , neste  caso). Um  olhar  lânguido  pela  janela  e  a  grama ,já  muito  alta,convida-me  à  ceifá-la. Irei,penso  com  meus  botões.Será  uma  boa  oportunidade  de  queimar  os  excessos  ingeridos  no almoço  de  domingo.
  Já  passam  das  15  horas  quando  dou  por  terminada  a  tarefa.Uffa!...Um  bom  banho  e dá-lhe  os  meus  l6  km  de  caminhada  de  fins  de  semana,que  particularmente adoro,e  onde,no  trajeto,  mentalizo  alguns  de  meus   textos  aqui  do  recanto.
Ficou  tão  somente  no  “dá-lhe!”.O  céu  se  fechou  em  carranca  e  uma  chuva  persistente não  deu  trégua.O  que  fazer?...Olhar  os  pingos  pela  vidraça? Pensar  em  bolinhos  de  chuva? Escrever? Revirar  as  gavetas?...Boas  perguntas.
  Optei  por  ouvir  música.Algo  bem  romântico,quase  melancólico. “How can  you  mend  a  broken  heart” com  os  Bee  Gees.Curto  demais  êsses  caras.E  numa  tarde  destas com  a  chuva   fazendo  correntezas  pelas  calhas,frustrado  em  minha  caminhada  de domingo,a  canção  vem  à calhar  diante  do  que  sinto.Até  porque,traduzida  quer  dizer:”Como  consertar  um  coração  partido?”  O  meu,(nem  tanto),mas  “P”  da  vida  sem  poder  soltar-me  nestes  acostamentos  que  conhecem  minha  história.
Ah!...Êsses  domingos  frustrados.