NEM TUDO ESTÁ PERDIDO
Fim de tarde de domingo.Um domingo lindo e...gelado.Como de costume saímos,meu filho e eu,para uns bordejos embalados ao som de CDs que selecionamos antes de pegar a estrada.
Democraticamente “eu decido” o que vamos ouvir .Êle,resignado,acata.Em contrapartida a boléia fica sob seu domínio.Não sem antes ter de agüentar de minha parte um rosário de recomendações pertinentes aos cuidados com o trânsito.
No caminho acabamos sempre nos esquecendo as boas maneiras e extrapolamos no volume daquilo que ouvimos.O que acho perfeitamente perdoável,até porque ouvir Credence,Beatles,Queen,e congêneres em volume baixo me parece um sacrilégio.
Optamos,hoje, por “Queen” e...Atuchamos!
No trajeto fomos parando ,aqui e acolá,em cumprimento de minha mais nova mania:Fotografar.
E aí,é bom que se diga,apesar de reconhecer um certo bom gosto de minha parte na escolha dos cenários,preciso admitir o meu despreparo técnico.Há alguns dias atrás fotografei belíssimos por de sol.Quando tentei passa-los para o computador e não consegui, fui advertido de que o cartão de memória estava cheio e,por conseqüência, minhas fotos ficaram gravadas tão somente na minha memória.
Hoje,as três primeiras saíram bem.Quando paramos próximo à um trevo de acesso para captar a imagem de um casarão centenário que fôra restaurado ,eis que o painelzinho maquiavélico me informa de que acabaram-se as pilhas.
Irritado e chingando até a mãe do padre,nem me dou conta de que os ares gelados da tarde conduzem as vozes de Fred Mercury e Mont Serra Cabalier numa das mais belas canções que conheço.
Quando percebo,vou deixando o “tresloucado” pouco à pouco ceder espaço ao sujeito calmo que sou (ou presumo o seja) e ali , parados no acostamento , deixamo-nos transportar nos acordes e vozes da melodia para um mundo distante e belo ,onde os sonhos determinam as rotas.
Um pouco à frente o casarão nas cores amarelo e azul espia a rodovia quase sem movimento.Algumas luzes acesas trespassam as vidraças num sutil convite à advinhar
vidas em seus compartimentos.
A tarde caída por completo ,e naquele trecho muito próximo ao campus universitário o asfalto faz um rasgo entre a extensa área verde ainda preservada.
À direita:Araucárias enormes sobressaindo-se às muitas espécies florestais de menor porte. À esquerda,vegetação rasteira correndo emaranhada até um pequeno riacho.Dando um toque especial à tudo isso,os trilhos desativados de uma ferrovia cruzam uma ponte abandonada, cujas estruturas em ferro dividem espaços entre ferrugem e alguns coraçõesinhos trespassados de flechas com nomes de pares que por ali viveram “momentos ardentes”.
A dupla canta na tarde gelada! O casarão nos espia,filtra pelas janelas a voz de Mont Serra Cabalier.Extasiados,ficamos à espera de que a melodia acabe para, só então , darmos a partida.Um pequeno ser cruza à nossa frente.Sai da direita em direção ao riacho.Parece um cachorro.Pára um instante e numa distância de uns cinco metros fica nos observando.Um belo lobo guará! Até parece domesticado.Tentamos uma aproximação e como a quem chama por um cão,nos aproximamos em muito do pequeno animal.
Magnífico, e com um olhar selvagemente penetrante ,êle até corresponde à nossa cortesia com ligeiro abanar de cauda.Depois,feito um raio deixa-se engolir pela vegetação.O CD chega ao final e aos nossos ouvidos restam o som melancólico da correnteza e um uivo dolente além da ponte de ferro.
No caminho de volta,um céu escandalosamente lindo deita-se em cáqui por detrás dos montes ,como plano de fundo à três araucárias esguias enegrecidas de crepúsculo.
Apesar da impossibilidade de fotografá-las ,a visão e o quase contacto com o solitário senhor da noite,deixado para trás ,servem como compensação e a certeza de que apesar dos pesares:Nem tudo está perdido.
PS.Como sou um sujeito persistente,adquiri umas pilhas,retornei ao local e captei a imagem das tres araucárias.Ei-las na foto ilustrativa.
IRATIENSE THUTO TEIXEIRA
Enviado por IRATIENSE THUTO TEIXEIRA em 29/05/2011
Alterado em 31/07/2011