Andante,Andante...
"Nenhum momento de felicidade terá sentido se não for compartilhado"
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    COLCHA DE RETALHOS

             (Das lembranças  de  minha  mãe)

Minha avó paterna falecera e tinha eu,então, quase nove anos à época.
Éramos três, dividindo os espaços de uma casa antiga daquelas com escadas que levavam ao sótão.
Na verdade,éramos quatro.Isso nos finais de semana,quando meu pai retornava do interior onde trabalhava.Nos outros dias,minha avó,a mãe e eu,partilhávamos nossas alegrias e nossos temores,sob aquele mesmo teto entre paredes rústicas pouco iluminadas à claridade de lampiões.
Minha mãe era uma pessoa frágil,sensível e vovó ,apesar da idade,era o oposto.Assim,representava nossa fortaleza,nosso amparo.Proximo a ela sentíamos protegidos.
Quando ela se foi,ficamos,minha mãe e eu,literalmente perdidos.Nos primeiros dias alguns familiares nos fizeram companhia,mas quando se foram,pudemos sentir o vazio e a angústia de permanecer naquela casa - que nos parecia sinistra agora-
As noites eram intermináveis .O vento soprava uma canção medonha pelos galhos das muitas pereiras que a circundavam.O tropel dos cavalos pela estrada de chão,latidos insessantes de cães pelas cercanias e o pio tétrico e atesourado da Sundara nos punha em pânico.
Quando o dia raiava...Renascíamos !
Foi aí que uma comadre de mamãe, sugeriu que "Rosinha",sua filha mais velha,viesse pernoitar em nossa casa,fazendo-nos companhia.
Fícávamos todo o começo de noite a esperar que Rosinha surgisse na esquina.
[ E ela vinha !]
Fez isso durante longo tempo.Rosinha fazia planos de casar-se com o rapaz que namorava na época.Por conta disso,estava no preparo de seu enxoval.
Dentre as peças, Rosinha sonhava com uma colcha feita de pequenos retalhos brancos ,bordados à mão, unidos por crochê.
A tarefa consumiu mais de um ano de dedicação.As chamas crepitavam no fogão à lenha,a moça bordava flores em "ponto cruz" nos delicados retalhos de algodão branco e os dedos ágeis de mamãe iam unindo em fios,um a um na tão sonhada colcha.
Ajoelhado ao redor de um banco,eu rabiscava um livro que ganhara de meu pai
enquanto o pensamento voejava por mundos de minha ingenua criatividade .
Lá fora a noite escorria em breu sobre a casa e as pereiras entoavam lúgubres canções das noites de minha infância.
Um dia a colcha ficou pronta.Fizeram-a debruada em penduricalhos de fios em toda a sua extensão.Emocionadas estenderam-a sobre a cama e de olhos marejados abraçaram-se felizes.
Rosinha casou-se com o seu amado,tomou novo rumo em sua vida.Juntos,minha mãe e eu,aprendemos a dificil arte da superação e já não sentíamos os mesmos temores de outrora.
Agora nestas divagações,mãos invisíveis apertam-me o peito,as lembranças lambem-me as madeixas e feito piá  ponho-me a relembrar aquela casa de paredes opacas,plenas de ausências e o toque do destino nos enviando um ser iluminado que tecia sonhos naquelas noites soturnas e melancólicas.
Joel Gomes  Teixeira
IRATIENSE THUTO TEIXEIRA
Enviado por IRATIENSE THUTO TEIXEIRA em 10/05/2019
Alterado em 10/05/2019
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